12 fevereiro, 2006

Tell...Tell




Resolvi escolher, na Suíça, para acampar, um parque nas imediações de Interlaken.
Cidade muito bonita, situada entre os lagos Thun e Brienz, mas proibitiva para gente pouco endinheirada. Planeei ficar 6 dias, ao fim do terceiro já estávamos a arrumar a trouxa para arrancar no dia seguinte, porque os carcanhóis voavam rapidamente...
Tudo caríssimo: abundavam os hotéis chiquérrimos, os carrões, as ourivesarias a cintilar de diamantes...Nada que um portuguesinho, funcionário, pudesse aguentar! Mas enquanto durou foi lindo: andámos de barco, nadámos no lago à beira da estrada, andámos de teleférico, subimos perigosamente a montanha a pé para ver um glaciar.

Em fim de tarde, a descansar na tenda, ouvimos um barulho de chocalhos e música na rua. Fomos espreitar : era a parada de actores, humanos e animais, que se dirigiam para o teatro ao ar livre para apresentar a peça, Guilherme Tell.



O teatro tinha esta particularidade: o público estava sentado num anfiteatro enorme coberto, mas o palco era a céu aberto, na própria floresta de Rugen, onde viveu Guilherme Tell , segunda a lenda. De tudo aquilo, apreciámos os cenários, o movimento de vacas e cavalos no palco, a prestação dos actores, todos habitantes locais. Mas como era em alemão, as únicas coisas que percebemos foram, quando um rapazinho gritava:
- Fater, Fater..
…e outro alguém chamava:
- Tell, Tell
Valeu-nos já ter uma ideia da história...



Na altura tínhamos uma canadiana grande, com um pequeno avançado fechado à frente. A condição que sempre impûs para fazer campismo, era ter uma tenda onde, no seu interior, caminhasse de pé... Não seria difícil já que apenas tenho 1,54 m de altura, bem puxados.
Noutro fim de tarde, desabou uma tempestade, com ventos fortes vindos dos picos gelados (Junfrau).



O vento assobiava com força, a chuva caía torrencialmente, os trovões ribombavam com estrondo, o céu todo iluminado com faíscas...
Vimos jeitos de a tenda levantar vôo, abanava por todos os lados, cada vez que vinham aquelas rajadas fortíssimas: agarrados a cada um dos paus da tenda, queriamos evitar que tal acontecesse!
Eu estava num dilema, ou agarrava o pau da tenda ou fugia para o carro com medo da trovoada...
Foi precisa coragem...mas não arredei pé!

9 comentários:

mixtu disse...

mulher coragem, sim senhor...
excelentes fotos e descrição, apetece-me ir À siuça, que só conheço do ar.

jinhos

Anónimo disse...

Olá Mixtu!
Obrigada pela visita, admiro a tua coragem de ainda ler estes relatos e teres tempo para responder pessoalmente a centenas de visitantes do teu blog! Fantástico...
Passei os olhos pelo teu blog e vi que a poesia tem um lugar especial, Neruda e Pessoa assentos vitalícios, já que nunca morrem...
Parabéns!
Bjinho

paper life disse...

é assim, mulher de armas!

: Bjs

Anónimo disse...

Paper life, as trovoadas andavam sempre a perseguir-me nas minhas viagens...Problema de viajar em Agosto. Para ti seria uma companhia agradável!!!

Faria, há tanto mundo para ver,tanta beleza, é uma pena o tempo que se perde a dizer mal da vida...

Bjinhos

Anónimo disse...

Já vai sendo habito, viajar contigo girassol...adorei esta viagem...aonde vamos a seguir?
Um beijo amiguinha,

Henrique Santos disse...

Das estórias de áfrica bem quentinhas, para os "glaciares"... É um país que não conheço, mas que gostaria de fazer o mesmo que tu isso nem se fala. Estive há tempos para ir com o meu Benfica, mas também os carcanhóis foram impedimento sério...
Belas crónicas, porque eu pus a escrita em dia e fui lêr o que estava a perder... porque aqui, quem não lê não sabe o que perde...
Bjinhos Ricky

Isabel Filipe disse...

As tuas descrições são lindas...
adorei...

muitas viagens fazes tu...

boa semana e beijoka

Lmatta disse...

Olá
Gostei da tua maneira de contar,"viagem com uns pouco de história real
Beijocas

Anónimo disse...

Bitta, o sentimento de descoberta é mútuo...Aprendemos uns com os outros e ...ficamos melhores!

Noitestrelada, tenho ainda muitas viagens para te levar comigo! Vais gostar, vais sorrir...Continua por aqui, não desligues...

Ricky, esta velha Europa, ainda tem muito para ver...Acredita que tenho saudades destes tempos em que viajava, sem nada conhecer, com pouco pilim...Iria outravez, ai isso ia!

Isabel, diz antes, fiz!!!! Sabes, é a minha curiosidade de conhecer lugares, gente, costumes diferentes, aliada a um certo espírito de aventura...e sacrifício!

Imatta, até parecem os "Flagrantes da vida real" das Selecções ...!

Beijinhos para todos