27 fevereiro, 2006

A primeira noite na Ria


Há cerca de três anos conseguimos realizar o sonho de uma vida do meu pescador: ter um barco de pesca! Assim, em vez dum carro novo adquirimos um em segunda mão e fizémos a compra...

Entusiasmados, resolvemos então pernoitar na Ria...
Um amigo nosso já nos tinha avisado: não pernoitem na Ria, é perigoso...Levem ao menos uma caçadeira! Ri - me do exagero!
Cerca das quatro da tarde resolvemos acabar a pescaria e rumar ao local escolhido para passar a noite, uma pequena enseada abrigada, calma, sem grande movimento. Ancorámos e preparámo-nos para jantar; ao aquecer a sopa com uma resistência eléctrica a luz foi-se abaixo...Ficámos de imediato preocupados, pensando que tinha sido um curto-circuito e iríamos ficar sem energia!!!! Pânico de "maçaricos" nestas lides...Felizmente o disjuntor tinha disparado...Tudo bem!
A Ria estava serena; o barco só balançava ao passar da "carreira" para S. Jacinto ou de alguma bateira a transportar pescadores para os molhes.

Ria de Aveiro à noite (tirada da net)
Perto da uma da manhã, acordámos com barulho, luzes de lanterna a incidir no barco e uma voz de homem a gritar:
- Olhe lá, olhe lá, acha que está bem ancorado?
O meu primeiro pensamento, ainda meio estremunhada, foi: estamos à deriva!!!!!
O Fernando saiu e com voz grossa perguntou:
- O que é que se passa?
- Não viu? Está cego? Tenho aqui umas redes, estão mesmo em cima delas!
- Não vi nada quando cheguei...não estava nada sinalizado...
- Estão aqui desde as 8 da manhã!
- Eu cheguei às 4 da tarde e não havia aqui nenhuma bóia de sinalização l
- Já tenho a matrícula, se me estragarem a rede vou-me queixar! - ameaçou-nos com voz meio avinhada.
Puxei-o para dentro da cabina; o homem deu mais umas voltas ao barco sempre com a lanterna apontada e por fim lá se foi. Bom, não sabíamos que pensar: ou tinha ido de vez ou voltaria com uns amigalhaços para nos correr...Assim, para evitar mais chatices, resolvemos afastar-nos dali. Ao puxar a âncora, veio a rede agarrada...azar! Com jeitinho e paciência o Fernando retirou a rede e, muito lentamente, pusemos o motor em marcha. Felizmente a rede não se tinha emaranhado na hélice!
Mais tarde, ao lembrar este episódio, calculei que teria de repensar as noites na Ria, já que estávamos mesmo bastante vulneráveis!
Afinal, numa estadia tão esperada, nem tudo foram rosas... ou melhor , peixes!!!

24 fevereiro, 2006

Bom Carnaval!




Que, palhaços do circo do Senhor,
sejamos loucos do mais belo siso
transformando num jogo a nossa dor
e a dádiva das lágrimas em riso

Caderno Três sem Revisão [inédito] - Agostinho da Silva


Gostaram da minha fantasia? O pobre do crocodilo é que deve estar atrapalhado...
Bom Carnaval! Divirtam-se!
Até para a semana...
Bjs

23 fevereiro, 2006

A Cassete Voadora


O meu Fiat 124 com matrícula MLE-45-04 durou vinte e cinco anos. Desde os dezoito anos ( tive de me emancipar para poder tirar a carta...) foi o meu companheiro inseparável; viajou de Moçambique para Angola e depois para Portugal. Mudaram-lhe o volante, mudaram-lhe a cor de azul claro para branco e ele, mesmo assim, agradecido, portou-se sempre à altura, sem acidentes. Por fim, o seu coração, cansado, parou de bater. E acreditem, nem quis estar presente quando o levaram para a sucata, o meu primeiro carro. Aflitos, tivémos de arranjar um carro em segunda mão e comprámos uma Dyane. Barrete, claro!

A viagem inaugural Aveiro-Viseu foi um espectáculo: chovia tanto fora como dentro do carro!!!
Um dia, em fim de tarde, íamos à festa de aniversário duns amigos cuja casa se distancia cerca de 4 km da nossa.
Pelo caminho, não tendo cassetes no carro, pedi às garotas a cassete do Michael Jackson, que elas levavam para a festa, entre outras. A Tita, a mais velha, pôs-se com esquisitices, que leitor do carro estragava a cassete e mais assim e mais assado...Já aborrecida com o assunto, pedi-lhe novamente. Por fim, muito relutantemente, lá ma entregou. Já a fumegar pelas narinas, abri a janela do carro e a maldita cassete voou em direcção à terra...
Ficou tudo calado...



Depois, com uma lanterna, ao lusco-fusco, as miúdas mais os amigos, foram com o pai procurá-la...e encontraram a dita!
Ficou a ser conhecido este episódio como O caso da Cassete Voadora... Riem-se e gozam o meu mau génio da altura....
Certo é que a Tita é hoje uma pessoa amiga de dar, de uma grande generosidade...
Terá tido este episódio alguma influência?

22 fevereiro, 2006

E esta? Ai Professor, Professor...


Moon Dreams - Marta Wiley



Em mim tenho o mundo inteiro
e mais que tudo as estrelas
é procurá-las no céu
o que me impede de vê-las

Quadras Inéditas - Agostinho da Silva

21 fevereiro, 2006

Nem que a vaca tussa...

Há cerca de seis anos fomos pela primeira vez ao Brasil. A viagem teve apenas o propósito de visitar a famíla do meu marido (mãe, irmã, cunhado, sobrinhos...).
Lá fomos para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, uma cidade do tipo europeu, com clima temperado. Os invernos são frios, os verões, assim, assim.
Os irmãos não se viam há mais de quarenta anos...Coisas da vida e da falta de dinheiro dum e doutro lado. Actualmente as viagens ficaram mais acessíveis, é um corropio para o Brasil. Mas quem pensava em viajar de avião aqui há dez, vinte anos?????
Foi uma alegria, uma emoção ver os irmãos de braço dado, passeando pelos centros comerciais; conversando à mesa, saboreando refeições habilmente cozinhadas, com aquele quê tropical...Os camarões, a feijoada, a carne de vaca ... Hummmmm.....uma verdadeira delícia!

Gramado

Levaram-nos a conhecer a serra gaúcha: Gramado, Canela, Bento Gonçalves.
Uma beleza, indescritível!
Inesquecíveis também os chocolates de Gramado, as cucas ( folares com frutas), o Parque do Caracol
.

Assistimos à Festa da Colónia em Gramado, ligada à história dos colonos italianos e alemães que povoaram e desenvolveram aquela região. A sensação que temos é que estamos em plena Europa...Parecem cidades da Alemanha, Suíça...E os costumes também! Tudo muito limpinho, arrumado, florido, especialmente com hortênsias.

Cascata do Caracol

De passagem fomos visitar os pais da minha sobrinha, descendentes de italianos, avicultores, como tantos naquela zona.
Mal tínhamos saído do carro, ouvimos tiros de pistola! Na estrada que tínhamos deixado, a cerca de dez metros, um carro da polícia a perseguir outro carro aos tiros....!!!!
Na serra, no meio de nenhures, uma cena de filme policial.....!!!!!
Ainda não refeitos do susto...ouvimos uma tosse. Olhámos e não vimos ninguém a tossir....
Estávamos muito perto duma cerca e quase encostada a esta, uma vaca tossia!!!!
Disseram-nos que era para chamar a nossa atenção!!!!! Vejam...mimo de vaca!!!!!



Com certeza já ouviram a expressão Nem que a vaca tussa. Dizem:
-
Não (faço isso ou aquilo)....nem que a vaca tussa!!!!
Pois meus amigos, elas tossem mesmo!
O Fernando, que já tinha pouca vontade de conhecer o Brasil por causa da violência, por esta cena e outras ainda, nunca mais lá quis voltar....
Lá tenho que ir eu com as minhas amigas farristas fazer uma viagenzinha até ao Brasil...
Que sacrifício...!!!!!!

19 fevereiro, 2006

Separação...bem aproveitada!


Já aqui contei como me senti, quando fiquei sozinha com as minhas pequenas, por ausência do Fernando durante seis meses, para fazer um curso no Canadá.

De rastos...no primeiro mês. Depois ergui-me, respirei fundo e pensei:
- Grande oportunidade para fazer tudo o que me der na bolha...
Dinheiro não me faltava, já que tinha ficado com dois ordenados para gastar...Falta dizer que somos um casal à moda antiga: apenas uma conta de banco comum, resultado da acumulação dos vencimentos. No fim de cada mês, claro, a conta a zero ou pouco menos...Adiante!
Na altura tínhamos uma Citroen Dyane bege.



Em alguns fins-de-semana, rumávamos à Figueira: abríamos a capota, cabelos ao vento, música dos Wham e outras do género e lá íamos passar, com a família, uns dias de lazer.
Chegadas as férias, resolvi viajar com uns amigos: quinze dias de campismo em Espanha, quinze dias numa casa alugada em Albufeira.

Toledo - El Greco

Toledo, Córdova, Granada, foram as cidades calcorreadas: derreti sob o calor intenso de Agosto...e derreti a massa! Vingança de china!

Alhambra - Granada

No Algarve, nunca íamos para a mesma praia, o que era uma trabalheira!
Um dia fomos para Armação de Pêra. Montes de gente, uma confusão. Os meus amigos e os garotos voltaram da habitual caminhada pela praia muito alvoroçados: tinham passeado pela praia ao lado e visto uma quantidade de nudistas deitados ao sol... Bom, perante tanto alarido, resolvi ir dar uma volta. Curiosidade era mato!

The Beach Nudistes - Fred Yates

Nada de especial, achei: lá estavam eles, comodamente estendidos ao sol.
Caminhei durante um tempo, chapinhando com os pés na água e levantando a água para me refrescar.
De repente, em contra-luz, vejo alguém aproximar-se, em sentido contrário. Mais perto, apareceu-me um homem lindo, loiro, cabelo comprido, corpo nu tisnado de doirado pelo Sol, um verdadeiro Adónis! A boca secou, as pernas fraquejaram, a pulsação aumentou desenfreada: era tudo resultado daquela maldita separação, já lá iam cinco meses...
Quando aquela beleza de homem passou apenas a dois metros de mim, senti uma onda de choque...e logo a seguir uma sensação boa, de acalmia.
Daí a um mês, quando o Fernando regressou, não era só eu que tinha saudades!
E iniciámos uma nova e maravilhosa lua-de-mel…
Ah...Afinal valeu a pena....


18 fevereiro, 2006

Vive com garra!



Jogos de brincar com areia e peixes - Roberto Chichorro

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É fundamental divertires-te enquanto percorres o caminho em direcção aos teus objectivos. Nunca te esqueças de quão importante é viver com um entusiasmo desenfreado. Nunca deixes de ver a beleza extraordinária de todos os seres vivos. O dia de hoje, este preciso instante que tu e eu estamos a partilhar, é um dom. Mantém-te alegre, curioso e com garra. Mantém-te concentrado na obra da tua vida e ajuda o próximo. O Universo encarregar-se-á de tudo o resto.
Esta é uma das leis mais verdadeiras da natureza.
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O Monge que vendeu o seu Ferrari - Robin S. Sharma

17 fevereiro, 2006

Ser Poema...

Nu au bracelet - Henri Matisse

Antes teor que teorema,
vê lá se além de poeta,
és tu poema

Uns Poemas de Agostinho - Agostinho da Silva

16 fevereiro, 2006

Espaço e Tempo


Quiet evening - Henderson Cisz


“Só há espaço quando se vê e só há tempo quando se pensa”

Pensamento à Solta - Agostinho da Silva

13 fevereiro, 2006

Cada gesto de amor


Daydream - Paul Milner


Cada gesto de amor são raios de sol ao amanhecer...
todos os dias nasce o sol, mas nunca de igual modo...
assim os gestos

Ferrus



Este poema, deixado pelo Ferrus, do Cantigas de Amigo, num comentário, não poderia ficar ignorado...
Gostei muito e coloquei-o aqui para comemorar o Dia dos Namorados.

Namorar, sim... mas porque não toda a vida?

12 fevereiro, 2006

Tell...Tell




Resolvi escolher, na Suíça, para acampar, um parque nas imediações de Interlaken.
Cidade muito bonita, situada entre os lagos Thun e Brienz, mas proibitiva para gente pouco endinheirada. Planeei ficar 6 dias, ao fim do terceiro já estávamos a arrumar a trouxa para arrancar no dia seguinte, porque os carcanhóis voavam rapidamente...
Tudo caríssimo: abundavam os hotéis chiquérrimos, os carrões, as ourivesarias a cintilar de diamantes...Nada que um portuguesinho, funcionário, pudesse aguentar! Mas enquanto durou foi lindo: andámos de barco, nadámos no lago à beira da estrada, andámos de teleférico, subimos perigosamente a montanha a pé para ver um glaciar.

Em fim de tarde, a descansar na tenda, ouvimos um barulho de chocalhos e música na rua. Fomos espreitar : era a parada de actores, humanos e animais, que se dirigiam para o teatro ao ar livre para apresentar a peça, Guilherme Tell.



O teatro tinha esta particularidade: o público estava sentado num anfiteatro enorme coberto, mas o palco era a céu aberto, na própria floresta de Rugen, onde viveu Guilherme Tell , segunda a lenda. De tudo aquilo, apreciámos os cenários, o movimento de vacas e cavalos no palco, a prestação dos actores, todos habitantes locais. Mas como era em alemão, as únicas coisas que percebemos foram, quando um rapazinho gritava:
- Fater, Fater..
…e outro alguém chamava:
- Tell, Tell
Valeu-nos já ter uma ideia da história...



Na altura tínhamos uma canadiana grande, com um pequeno avançado fechado à frente. A condição que sempre impûs para fazer campismo, era ter uma tenda onde, no seu interior, caminhasse de pé... Não seria difícil já que apenas tenho 1,54 m de altura, bem puxados.
Noutro fim de tarde, desabou uma tempestade, com ventos fortes vindos dos picos gelados (Junfrau).



O vento assobiava com força, a chuva caía torrencialmente, os trovões ribombavam com estrondo, o céu todo iluminado com faíscas...
Vimos jeitos de a tenda levantar vôo, abanava por todos os lados, cada vez que vinham aquelas rajadas fortíssimas: agarrados a cada um dos paus da tenda, queriamos evitar que tal acontecesse!
Eu estava num dilema, ou agarrava o pau da tenda ou fugia para o carro com medo da trovoada...
Foi precisa coragem...mas não arredei pé!

11 fevereiro, 2006

Cabras alpinas...



Nassereith - Tirol - Austria


Estas histórias não são da tia Alice, estas são do Girassol. Umas de viagens, outras nem por isso...
Aprendi durante a minha vida, a descobrir a graça em situações um pouco desgraçadas. Como se quisesse remar contra a maré de má sorte, que por vezes nos vem beijar de leve. Mas o seu efeito em nós é, muitas vezes, pedagógico. Assim o entendo.
Nas minhas viagens pela Europa, aquilo que me dava um grande prazer era planear a viagem! Para isso, escolhia dois ou três destinos, marcava no mapa, assentava os km e socorria-me do livro dos campings europeus, a fim de encontrar os poisos ideais. De preferência, que tivessem piscina, para tomar uma banhoca ao fim da tarde, depois da canseira das visitas...
Tenho que ser sincera quando digo que a maior parte das vezes os planos quanto a banhos saíram furados: ou porque chegávamos já de noite ou por rebentar uma tempestade do caraças, vinda não sei donde. Principalmente nos Alpes, no mês de Agosto!
A primeira vez que visitei a Áustria fiquei maravilhada. Assentámos arraiais num parque de campismo junto da fronteira com a região da Baviera, em Nassereith, em pleno Tirol. Tínhamos pensado ficar 4 ou 5 dias e depois seguir para Salzburgo. Mas acabámos por gostar tanto que não levantámos mais a tenda durante onze dias!
Todos os dias passávamos a fronteira, pelo Fernpass, para visitar os célebres castelos do rei não menos célebre, (um pouco louco, diziam...) Luis II da Baviera. Pensa-se ter sido assassinado, porque gastou fortunas para construir os seus castelos. Hoje são uma fonte de rendimento enorme para o país, já que são visitados por milhões de turistas todos os anos, pagando uma nota preta! Mas vale a pena, o dinheiro gasto, o sacrifício para os ver, depois de esperar horas sem fim em bichas intermináveis...
Invariavelmente, pelas quatro, cinco da tarde o tempo enfarrusca-se, na região alpina, dando origem a chuva, trovoada, vento, enfim, terra lavada!
Um dia, chegámos ao camping e resolvemos dar uma volta pelo promontório logo atrás. Cruzámo-nos com um grande rebanho de cabras montanhesas e a sua pastora. As cabras, de pêlo muito comprido, quando passámos, ficaram a olhar.
Depois, uma quantidade delas, em vez de seguir a pastora, veio atrás de mim. E por mais que a mulher as chamasse, elas continuavam todas lampeiras no meu encalço...Por fim, depois de muito correr, lá conseguiu que voltassem para trás, mas uma delas, renitente, não queria obedecer e continuava a seguir-me, fugindo da mulher.

Fiquei a pensar no assunto...Que teriam visto elas em mim?

Pô...eu até pensava que era boa pessoa!


10 fevereiro, 2006

Os caminhos do Amor...


Amour - Claude Theberge


Quando o amor te acenar - segue-o
ainda que os seus caminhos
sejam duros e escarpados
e quando as suas asas
te envolverem - entrega-te
ainda que te fira a espada
que traz escondida na plumagem...

Betty Branco Martins


A Betty comentou assim, nesta forma poética, um dos meus posts e eu quis que partilhassem comigo a sua bela mensagem.
Obrigada, Betty!

09 fevereiro, 2006

Amor louco...


Vive l'Amour - Niki de Saint Phalle


Há sempre alguma loucura no amor.
Mas há sempre um pouco de razão na loucura.

Friedrich Wilhelm Nietzsche

08 fevereiro, 2006

Liberdade


Beach - Lynne Timmington


Aqui nesta praia onde

Não há nenhum vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando ininterruptamente,

Puro espaço e lúcida unidade,

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.


Liberdade - Sophia de Mello Breyner Andresen

07 fevereiro, 2006

O Verdadeiro Gesto de Amor


The first kiss - Paul Greenwood


Aquilo que de verdadeiramente significativo podemos dar a alguém é o que nunca demos a outra pessoa, porque nasceu e se inventou por obra do afecto. O gesto mais amoroso deixa de o ser se, mesmo bem sentido, representa a repetição de incontáveis gestos anteriores numa situação semelhante. O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência.

O Verdadeiro Gesto de Amor - Fernando Namora, in 'Jornal sem Data'

06 fevereiro, 2006

Lá terá de ser...

Respondendo a um desafio da Bitta do Diário de Bordo....


....aqui estou eu!

Há 10 anos - tinha apenas...47 anos!!!!!!

Há 5 anos - comecei a trabalhar num projecto que criei, depois de muito padecer para o conseguir...

Há 2 anos - a primeira vez que fui a Macau e fiquei apaixonada por ela...
Há 1 ano - Estava para nascer a minha primeira neta...Que nervoso miudinho, ai a minha rica filha!!!!!

Ontem - fiquei triste no aniversário do desaparecimento dum amigo e colega querido!
Hoje - trabalhei que nem uma mula...e ainda ficou por resolver um pequeno problema!

Amanhã - será outro dia...! E vou marrar com o tal problema...até resolver!
Coisas sem as quais não consigo viver - carro, lareira acesa de inverno, computador, internet, música.
Coisas que compraria com 1000£ - passagem para Macau...não dava para mais...!!!!

Cinco maus hábitos que tenho: comer chocolate preto, ver filmes na TV deitada no sofá, acordar tarde, adiar, hibernar de inverno
Três coisas que me metem medo : ficar alzheimeriada, dormir sozinha em casa, viajar nas estradas portuguesas...

Três coisas que tenho vestidas: pijama verde alface, peúgas brancas e ...fio de ouro

Três coisas que quero mesmo muito neste instante: amores serenos e loucos para as minhas amigas!

Três lugares que gostava de visitar: Machu Pichu, Nova Iorque e Pemba.


Desafio:

Vida de papel
De costas para o rio
Lenta e Mente

e agora ...desembrulhem-se! Eu já estou safa!

05 fevereiro, 2006

Não leves a mal...



Cor Caroli

Pediu-me a tua companheira dedicada, no dia da despedida, quando me abraçou, que te fizesse uns versos.
Nunca consegui...

Poeta não sou, mas sei que achavas graça às brincadeiras que, por vezes, escrevia em verso.
Pensei que não queria escrever nada que fosse triste, porque eras alegre, não irias apreciar...
Não consegui...

Não me leves a mal, Carlos, eu não desisti de os fazer.
Um dia quando, ao pensar em ti, conseguir que as lágrimas não saltem, então saberei o que dizer.
Ainda é muito cedo.
Só passou um ano.

04 fevereiro, 2006

Sei que a ternura


Serene shore - Dominguez


Sei que a ternura
Não é coisa que se peça,
E dar-se não significa
Que alguém a queira ou mereça.
Estas verdades,
Que são do senso comum,
Não me dão conformação
Nem sentimento nenhum
De haver força e dignidade
Na minha sabedoria...
Eu preferia - Sinceramente, preferia!
- Que, contra as leis recolhidas
No que ficou dos destroços
De outras vidas,
Tu me desses a ternura que te peço;
Ou que, por fim, reparasses
Que a mereço.

Sei que a ternura - Reinaldo Ferreira

03 fevereiro, 2006

Eu sei


Head -Pablo Picasso


Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

Amostra sem valor - António Gedeão

02 fevereiro, 2006

Histórias da tia Alice VI

Em Pádua é que foi o sarilho.
Quem vai a Pádua, vai ver a Basílica de Santo António onde está sepultado o nosso santo. Santo António era frei português e acabou por ficar em Itália. Custa a engolir!
A tia Alice tinha umas contas a ajustar com o santo casamenteiro; eu só queria agradecer-lhe, porque até me tinha presenteado com um companheiro bom!
E assim lá fomos procurar a basílica. À terceira foi de vez, depois de percorrer a pé meia cidade com um calor tórrido....:
À porta estava um senhor de escuro que só tinha estas funções: medir as saias das senhoras. ver os decotes, os braços ao léu, o comprimento dos calções dos homens, enfim, se o traje de cada um estava nos conformes.
Eu levava um vestido comprido, até aos pés, mas o decote redondo não pronunciado e a ausência de mangas a tapar os ombros, foi razão suficiente para ser de imediato impedida de entrar...Imaginem o Santo era nosso e eu, portuguesinha de gema, não o podia ver!
Fiquei brava, a tia já se queria ir embora, mas achei que deveriam entrar os dois e eu ficaria a passear pelas imediações, uma praça enorme com tendinhas com venda de recordações religiosas.
Quando o meu marido e a tia Alice saíram da igreja, vendo a minha desilusão, virou-se para mim e propôs o seguinte:
- Olha, Belinha, eu empresto-te a minha T-shirt, fico em soutien que até é muito bonito, e espero cá fora por ti.
Era mulher para o fazer e eu imaginei a cena...
Estive tentada a aceitar...mas tive receio que ela fosse parar à pildra!!!

01 fevereiro, 2006

Histórias da tia Alice V

Em Veneza, achámos obrigatório andar de gôndola, comer a verdadeira pizza, visitar o Palácio dos Doges, a Catedral de São Marcos e meter o nariz nas lojinhas, ao longo dos canais. O tempo não era muito, apenas um dia, já que estávamos acampados a 100 km de distância.
Agosto, a ilha cheia de gente, tempo pouco sorridente. Começámos pelas gôndolas: negociámos com um sujeito de meia idade que parecia ser o patrão de uns tantos gondolieri e que nos levou 200000 liras pelos quatro. Passeio fantástico para nós, que contávamos os tostões, apontando todas as despesas num caderninho, juntamente com talões, recibos, bilhetes, etc. Esta contabilidade era apenas para saber o custo da viagem, já que iríamos passar o resto do ano a pagar o visa até novas férias...
Perguntámos ao nosso gondoleiro onde se comia uma boa pizza e ele mandou-nos para a pizzaria onde os colegas costumavam almoçar.
Pedimos a pizza da casa, que tinha nozes. A tia Alice, disse que gostava de nozes e logo o italiano, um borrachinho, que nos serviu, lhe trouxe um pires com 2 nozes, piscando-lhe o olho! As piscadelas de olho repetiram-se...e à saída despediu-se dela com um aperto no braço e mais uma piscadela...
A boa da tia Alice, com o seu humor habitual, virou-se para nós e disse:
- Deixem-me já aqui...tenho um problemazito para resolver!
Rimos e lá fomos para as visitas. Como o tempo corria célere, resolvemos separar-nos: a minha filha foi com o pai para o Palácio dos Doges e nós as duas para a bicha da Basílica . Ombros tapados, senão não nos deixavam entrar. Percorremos a igreja e chegámos ao altar-mor, onde se encontra o famoso retábulo, Pala d'Oro, um painel em ouro e pedras preciosas, que só se pode ver pagando!

A tia Alice perguntou ao senhor quanto era, fizémos um esgar ao ouvir a quantia e ele perguntou donde éramos. Quando soube que éramos portuguesas fêz um grande sorriso, murmurou qualquer coisa como irmãs em italiano e fêz sinal para avançarmos. E assim vimos o tal tesouro ...de borla!

Deve ter pensado: poverettas..