30 agosto, 2007

"A Negrita"

Ainda vivemos dois anos sozinhos, o meu pai e eu, antes de se tornar a casar.
Íamos frequentemente a Johanesburgo para comprar material eléctrico para a oficina.

De regresso duma dessas viagens, na região da Moamba, em Moçambique, avistámos na estrada um ponto negro e o meu pai foi abrandando até parar.
No meio da estrada estava uma cabritinha preta com as patas brancas que gritava como uma desmamada!

Devia ser recém-nascida pois ainda tinha cordão umbilical...
Olhámos à volta e não vimos vivalma; o meu pai resolveu pegar nela e levá-la connosco com medo que a atropelassem.

Vivíamos nessa altura num 1º andar e a casa tinha uma varanda a toda a largura, com uma belíssima vista para a baía.
Foi nessa varanda que depositámos a cabritinha.
Chamei-lhe “Negrita”.



Foto da net

A Negrita foi crescendo alimentada a biberão com todos os mimos, tornando-se um animal muito meigo, como se fosse um cãozinho.
Gostava tanto dela que, quando teve de sair de casa, fiquei muito desgostosa…

Foi para a oficina onde andava em correrias, com mais de 5000 m2 para explorar! Todos os empregados se afeiçoaram à Negrita.

Quando eu chegava ao portão da rua e a chamava, corria para me cumprimentar no seu alegre “méééééééé” ...e era uma festa para as duas!


Um dia a Negrita partiu um cornito numa polidora e enfaixaram-lhe a cabeça. Ficou linda mas não melhorou e teve de ser abatida para acabar com o seu sofrimento.

Durante muito tempo evitei aproximar-me da oficina.
E quando por fim consegui lá voltar, parecia ainda ouvir ao longe:
- “méééééééée”...

11 comentários:

Menina Marota disse...

Estória triste, mas de grande sentimento e significado...
Gostei imenso a ler.

Grata por aqui partilhares estes teus momentos.

Beijinhos e continuação de boa semana ;)

Belzebu disse...

São memórias simples e tão profundas, que nos acompanham pela vida! A forma como a descreves é como sempre, serena e cativante!

Obrigado por as partilhares connosco!

Aquele abraço infernal!

Carmim disse...

Todas as histórias que aqui leio são de uma sensibilidade imensa!
Parabéns.

Beijo.

Maria disse...

Estas tuas memórias são verdadeiras estórias de afectos.....

Obrigada pela partilha.
Um beijo grande, como a tua flor

Anónimo disse...

Curiosamente todas as memórias que guardamos de afectos com animais mantém-se incolumes de dualidade de sentires, pois nunca da parte deles existem comportamentos maldosos em relação a nós.
Tenho uma história análoga com um coelho, que até hoje guardo na memória, só que no caso do meu bichinho que era curioso fui vasculhar o armário dos detergentes e envenenou-se. Assistir á sua morte, apesar dos meus 9 anos, na altura, foi terrível.
Bjs
TD

Papoila disse...

Querida Girassol:
Como é bom ler e partilhar histórias como esta da Negrita!
Regressei de férias de olhos ainda a rolar estrada...a pouco e pouco volto a este mundo!
Beijos

Rodolfo N disse...

Que historia tan triste y que tierna a la vez...
Beijos

Maria disse...

Recordações lindas do passado mas q tb devem magoar bastante.
Um beijo para ti

Lusófona disse...

Olá Girassol!!!

De blog em blog acabei por chegar aqui e adorei ler as tuas histórias. Porém, está chamou-me mais a atenção... é incrível como sentimos amor pelos animais e eles por nós... adorei mesmo, e apesar de triste é uma linda recordação!

Beijinhos e um excelente fim de semana

bettips disse...

Imagino o que sentiste: exactamente. Um ou dois anos mais velha que tu em amizade com a Negrita, o meu caminho de casa para a camioneta para ir à cidade (do liceu) não era asfaltado. Era feito a pé. Entre os campos pastavam alguns animais. E havia um carneiro-menino: adoptamo-nos, literalmente, um ao outro. E quando me aproximava, chamava-o: Bééé... ao que ele respondia, ainda nem me tinha visto. Isto meses "de namoro". Sei que me ficou uma tristeza grande quando o dono o fez desaparecer, nem quis pensar para onde.

Anónimo disse...

Que engraçado em angola também tive uma e tal como essa teve um triste fim. Quado "rebentou" o terrorismo eles mataram-na.
ela gostava de andar atrás de mim a puxar-me as fraldas...