Páscoa...

Salvador Dali

Três da manhã e o sono tarda em chegar...
A cabeça dá voltas e voltas, a espera continua.
Afinal as cartas vão ser entregues em mão pelo superior hierárquico!
Quando? Talvez amanhã ou depois...
Bela Páscoa para os que as receberem!
Nem tinha pensado nisto:
- Páscoa, a crucificação, o sacrifício...

Algo se partiu dentro de mim, por perceber quão maquiavélico é todo este processo de afastamento das pessoas, sem dó nem piedade.
Números, só querem números, quantos mais melhor...

Olho para o pescador e vejo-lhe também a desilusão e tristeza nos olhos, sinto-lhe a dor no peito, de angústia. Pede-me um calmante, coisa rara...
Sei porque está assim.

- Então que idade é que tens?
- 61...
- E quando é que te reformas?
- Ainda não tenho tempo de reforma, só em 2011...
- Mas não estás interessado em ir para os disponíveis? Se tiveres um complemento cá fora...
- Não, não tenho...Fui sempre e só, funcionário público.
- É que o quadro da mobilidade não é assim tão mau...
E explica, tim-tim por tim-tim o padre nosso ao vigário.
Conversa da treta...

Aumentaram a idade da reforma, mas mesmo para aqueles que ainda não a atingiram, o valor é zero. O saber, a experiência adquirida, a competência profissional não contam.
Ah, o cartão...
Esse sim, conta!