Fui para Angola trabalhar, para Nova Lisboa, hoje Huambo, cidade completamente despedaçada pela guerra, berço desconhecido da minha filha mais velha.
Isto passou-se em 72, éramos novinhos, recém-casados. A minha vontade de voltar a África, tornar a encontrar vastos espaços onde a vista se perde e a alma se enche de luminosidade e paz, levou-nos de barco, no Príncipe Perfeito, até ao Lobito.
A viagem durou dez dias, sem escalas. Pouca gente já viajava desse modo, o avião tinha destronado os navios de passageiros que habitualmente levavam emigrantes para as colónias ou províncias ultramarinas, nome menos traumático, para quem lá se encontrava...
Tínhamos direito a viajar em 1ªclasse, atendendo ao contrato realizado com o Estado Português. Um luxo para nós, que casáramos simplesmente, apenas com cinco pessoas de famíla e duas testemunhas e gozáramos a lua-de-mel em casa...Pelintrice!
Esta viagem representava uma lua-de-mel, com direito a banhos de piscina, refeições abundantes, amor embalado pelas ondas do Atlântico, que não nos pregou nenhuma partida violenta...
Duas malas de porão, tudo o que tínhamos: algumas roupas, um serviço de jantar, livros, discos, aparelhagem de som National, algumas reproduções de quadros de pintores que apreciávamos.
Entre elas estava esta: Os Pombos, de Pablo Picasso, pintada em Cannes.
Uma janela para o Mediterrâneo, a calma das pombas, o azul do Céu.
Como iria ser a nossa vida numa terra completamente desconhecida?
Assim levei algo para olhar e viver...
E tinha razão: a terra era linda, um planalto com clima temperado, onde nada faltava, excepto o mar azul...que estava a 300 km de distância!
Este quadro esteve sempre na nossa sala...
Para ver o mar...quando sentisse saudades.
Isto passou-se em 72, éramos novinhos, recém-casados. A minha vontade de voltar a África, tornar a encontrar vastos espaços onde a vista se perde e a alma se enche de luminosidade e paz, levou-nos de barco, no Príncipe Perfeito, até ao Lobito.
A viagem durou dez dias, sem escalas. Pouca gente já viajava desse modo, o avião tinha destronado os navios de passageiros que habitualmente levavam emigrantes para as colónias ou províncias ultramarinas, nome menos traumático, para quem lá se encontrava...
Tínhamos direito a viajar em 1ªclasse, atendendo ao contrato realizado com o Estado Português. Um luxo para nós, que casáramos simplesmente, apenas com cinco pessoas de famíla e duas testemunhas e gozáramos a lua-de-mel em casa...Pelintrice!
Esta viagem representava uma lua-de-mel, com direito a banhos de piscina, refeições abundantes, amor embalado pelas ondas do Atlântico, que não nos pregou nenhuma partida violenta...
Duas malas de porão, tudo o que tínhamos: algumas roupas, um serviço de jantar, livros, discos, aparelhagem de som National, algumas reproduções de quadros de pintores que apreciávamos.
Entre elas estava esta: Os Pombos, de Pablo Picasso, pintada em Cannes.
Uma janela para o Mediterrâneo, a calma das pombas, o azul do Céu.
Como iria ser a nossa vida numa terra completamente desconhecida?
Assim levei algo para olhar e viver...
E tinha razão: a terra era linda, um planalto com clima temperado, onde nada faltava, excepto o mar azul...que estava a 300 km de distância!
Este quadro esteve sempre na nossa sala...
Para ver o mar...quando sentisse saudades.
11 comentários:
hoje li-te entre lágrimas, a saudade bateu à minha porta e não consigo pensar que não vou ver mais a cidade onde nasci, passei por todas essas terras que os meus olhos não conseguem esquecer
e a dor é profunda
abraço-te menina que gira com o sol e um beijo meu que vai até ti com carinho
lena
Olá querida Lena!
Não te queria fazer chorar...Mas as lágrimas também assomaram, teimosas, ao relembrar estes factos. Com certeza um dia irás ver a terra onde nasceste, como eu ierei a Moçambique matar saudades, em peregrinação, conhecer outros lugares que não tive oportunidade de ver. A força de espírito e a vontade irão ajudar-nos e quem está lá em cima também!
Um dia voltaremos...
Bjinho
Memórias e Histórias... o que seria da vida sem elas?! Mesmo que ao recordar uma lágrima role no nosso rosto e a saudade se instale por momentos em nós, o que seríamos nós se não tivéssemos nada para recordar?
"Recordar é viver" diz o povo. Obrigado por partilhá-la connosco.
... estive no huambo dez anos depois, circunstancialmente, mas deu para ver que a cidade e o que a rodeava eram lindos... o aparelho produtivo estava muito degradado, as residências estavam ocupadas por quadros do partido, vida difícil do povo! fiquei instalada no hotel central onde a água só corria em determinadas horas do dia, fria claro! a carência de bens essenciais era evidente...
foi a primeira vez que vi imbondeiros e aquele sol enorme de fogo a pôr-se... inesquecível
Só sei de África o que os livros me ensinaram. Sei também dos deslumbramentos e das dores dos amigos que lá nasceram ou viveram. E a minha curiosidade é imensa pela força dessas vivências. No teu espaço encontro uma reflexão serena e sentida, em que a saudade não chega a ser lágrima ou, pelo menos, a suspendes para contemplar o teu Picasso.
Um beijo carinhoso.
Licínia
O Huambo, a Tunda Vala, o Deserto de Moçambedes onde cheguei a ter miragens!!! Sá da Bandeira...
Muitas recordações que surgem com pujança desconhecida uma vez lido o seu post... Mas o que mais me encanta nele não é só a forma como me fez recordar imagens há tanto tempo "arquivadas" - mas antes a maneira cândida e tão bela quanto simples de traçar, em cada um dos últimos posts, como que um romance: a história dos dois jovens que primeiro se encontram nos Santos Populares, calças à boca de sino e a esperança no coração, para depois rumarem a África como desobridores de sonhos e fazedores de vidas!
Parabéns, se quiser continuar a história tenho a certeza que já tem vários leitores interessados!
Abraço amigo,
Isabel
Gostei muito
nasceste para escrever
parabens
Beijocas
Bom dia!
O passado enche-nos a alma.
Nasci em Angola, mas regressei tinha 15 dias de vida. Não conheci por isso a cidade onde nasci.
Muito sinceramente, e ao contrário de muitas pessoas, não desejo conhecer a minha terra, nem eu nem os meus pais desejam voltar a vê-la.
São feridas muito grandes que nem o tempo, trinta anos depois conseguiu sarar.
Gostei do teu blog e volto
Dafne
é verdade... Huambo continua um monte de escombros... Ainda há poucos dias via fotografias da "Baixa" de Huambo e o aspecto era ainda o mesmo do auje da guerra civil: um monte de escombros e de fachadas vazias e recheadas de buracos de balas.
Onde está a ir o dinheiro (crescente) do petróleo? Para Angole e para a sua reconstrução é que não parece estar a ir...
áfrica no coração...
fica sempre, não é?
nunca fui...
se calhar, depois fico assim, como vocês... apaixonadas para sempre!
beijinhos!
dia muito feliz!
Querida girassol, és muito especial!
O texto está carregado de emoção...
Agradeço a tua simpática presença na minha casa.
Um bjo e boa semana.
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