Parecia esquecido, mas não foi...
Há 34 anos e uns dias, o pescador e a girassol resolveram juntar os trapinhos e casar.
Não que eu quisesse a segunda parte, bastava-me a primeira! Mas a verdade é que ainda não me sentia totalmente libertada de preconceitos, apesar de ser uma jovem da geração de 60.
Detenho-me a cogitar em todo este tempo, em que tanta coisa aconteceu.
Princípio de vida apertado, ida para Angola, Nova Lisboa, hoje Huambo, trabalhar.
Nasceu a primeira filha. Tropa, regresso a Portugal, Aveiro, com dois caixotes onde cabia tudo o que nos pertencia e mais uma filha na barriga...
Frio, desemprego, aperto, nascimento da segunda filha. Lisboa, Caparica, aperto.
Aveiro, aperto, quatro num quarto, espera de tempos melhores. Viseu, aperto, apenas um a trabalhar. Renda cara, comendo metade do rendimento. Rissóis, empadão, croquetes, aproveitamentos, móveis desenhados pela girassol, carpinteirados pelo pescador, então caçador.
Concurso, aulas liceu, 4 anos. Estabilidade, finalmente, algum dinheiro!
Agasalhos, frio, muito frio!
Calças de bombazina, botas!
Uma voz na turma, quando de costas, escrevia no quadro:
- Que rrrrico par de collants...!!!!( rábula dum anúncio com Camilo de Oliveira a uma determinada marca de collants)
Tordos, muitos tordos, peninhas voando pela cozinha. Algumas perdizes.
Caldo verde, tostas mistas e castanhas assadas, em casa duma querida amiga, inesquecíveis serões!!!!
Aveiro novamente, construção da casa na aldeia natal do pescador-caçador.
Trabalho precário, tarefa, sempre na contingência de ser chutada...
Passaram 9 anos, finalmente no quadro.
Criaram-se as filhas, liceu, universidade no Porto.
Empregaram-se em Aveiro, fugida para fora do país...
Sós, cabelos brancos, TV ligada, horas a fio. Adormecer no sofá, calmaria.
Descoberta dos blogues...
De tudo isto resta o amor, a cumplicidade, a certeza de se ter cumprido a missão..
Amor para sempre, se Deus quiser e os anjos ajudarem.
(imagem da net)