30 novembro, 2005

Ilha Encantada


Jovens universitários, éramos um grupo pequeno de finalistas de Agronomia em viagem de estudo ao norte Moçambique. Já tínhamos passado pela Beira, Vila Pery, Quelimane e chegámos a Nampula. Rumámos à Ilha de Moçambique, era a primeira vez que iria visitá-la e estava curiosa! Ficámos instalados numa pensão e preparámo-nos para um magnífico jantar de marisco...
Hummmm, que noite agradável, quente, serena! 
No dia seguinte partíamos novamente para Nampula, a visita era curta, havia que aproveitar o tempo todo! 
Levantei-me muito cedo, talvez cinco da manhã, ainda era de noite. Tinha combinado de véspera com alguns colegas ir até à piscina da Pousada, tomar uma banhoca e ver o nascer do Sol....Afinal eles já tinham desaparecido e acabei por me meter a caminho sozinha. 
Momentos mágicos são esses que tenho para contar...

Percorro só estreitinhas ruas
de madrugada, é noite
de amarguras...
Chego à piscina ladeada a mar
e espero a aurora
do dia, o raiar...

Não estou sozinha
Oiço um marulhar,
além das ondas ,
rir e sussurrar...

E surge de repente o meu amor
Que num imenso abraço me estreita!
Enchendo de calor o peito
o corpo todo se deleita...

Corpos juntinhos num ardente beijo,
A aurora brilha, rompe num desejo!

Momento mágico de ternura tanta,
Brincadeiras de água, risos e olhares...
O coração cheio quase que rebenta
Na esperança vã de regressares...

Ao deixar a ilha rumo a outro lugar,
Tudo se esvanece em grande amargura...
Esfumou-se o encanto, findou a ternura.

Ilha encantada
( Ilha de Moçambique )

29 novembro, 2005

O Cinema...e a Emoção!

Devíamos guardar as lágrimas quando, por razões muito fortes, as temos de derramar. Mas não é assim, muitas vezes choramos por tudo e por nada e, algumas dessas vezes, nos filmes...É embaraçoso! Toda a vida fui assim, é uma fraqueza, eu sei. Tão depressa rio como choro, a emoção está sempre à flor da pele!
Quando as minhas filhas eram pequenas, todos me gozavam quando corria algum filme mais triste na TV: 
- Ó meninas vão buscar o barco que nos afogamos....dizia o meu marido a rir....Ainda hoje se passa o mesmo, sem filhas....! No cinema, é um martírio para sair da sala, olhos vermelhos, a fungar à procura de lenço que não está naquela carteira....Em casa, mesmo a olhar para o pequeno écran (já vos falo disto...) debulho-me em lágrimas, numa atitude parva e descontrolada...
Que chatice!!!!!
Sou uma cinéfila ferrenha, repito, mas o pequeno écran para mim é um desconsolo! Também sempre foi muito pequeno, dada a falta de massas que durante muitos anos grassou lá por casa! Havia outras prioridades e o tamanho do écran das TV's que se compraram não aumentou muito!!!!! Há pouco tempo fomos obrigados a comprar novo televisor: este já tem um écran maior, mas a razão deste facto tem pura e simplesmente a ver com a falta de vista e a preguiça de pôr óculos....! Gosto das salas de cinema que, pelo seu diminuto tamanho actual, não se comparam às de outrora. Ah, as salas do Manuel Rodrigues, do Gil Vicente, do Scala...Essas sim! Gosto do momento em que as luzes se apagam e o filme começa...Fico completamente envolvida na trama, seja ela qual for, drama, aventura, acção ou comédia....! Depois, a música, a fotografia, tudo em king size! Não se pode comparar, não tem o mesmo impacto, nem guardamos as mesmas recordações das imagens que vimos e nos encantam.
Continuo a falar de cinema, desculpem-me...Estou a ser chata? Só mais desta vez....
É que tenho algumas coisas para dizer acerca de dois filmes que me fizeram chorar perdidamente nas cenas finais e isso acontece sempre que os vejo! 

Um deles é O Náufrago (2000), com o grande comediante Tom Hanks ( nomeado para o Oscar por essa mesma interpretação) e o outro já foi aqui falado, As Pontes de Madison County (1995), com a maravilhosa Meryl Streep (também nomeada para o Oscar por esse papel). É interessante que em ambos os filmes, existe no final, o dilema, a escolha difícil, ficar ou partir com o grande amor! E é aí, nessas cenas, na sensação de perda, de impotência, que alago a sala...!!!!
As fotos desses terríveis momentos de As Pontes de Madison County são estas:



No filme O Náufrago ( baseado numa história verídica) , quando o pobre homem volta passados quatro anos de completo isolamento e encontra a mulher casada, com uma filha, passa-se o mesmo: chove, estão dentro do Jeep e.. é aí que me desfaço...e preciso do tal barco!!!!!! A Helen Hunt tem neste filme um pequeno grande papel, está contida, linda! Muito talentosa, ainda gosto de rever com muito prazer e gargalhada a série da TV que a tornou famosa, "Doido por Ti" !



Partilhei convosco alguns momentos emocionantes para mim ligados ao cinema...Serão assim também para alguns de vós? Tinha piada!!!!
Como diz o Jorge Palma na sua canção:
Deixa-me rir
Essa história não é tua...
.............
Deixa-me rir
.............
Esse curioso alambique
Onde são destilados
Noite e dia o choro e o riso
.............
Pois é, pois é


28 novembro, 2005

O Fiel Jardineiro

Pensava ser um filme de romance, diversão etc.,que me faria passar um bom bocado. Quando as primeiras cenas passaram, sons e imagens familiares apareceram, estava perante um filme sobre África, que nada tinha de leve nem divertido! África sangrenta, dolorida, vítima de enormes interesses comerciais envolvendo empresas de farmacêuticos, levando a cabo testes em cobaias humanas, não importando se o resultado pudesse levar ao sacrifício de vítimas inocentes. Assassínios, corrupção, tortura, raptos de crianças, banditismo, crueldade máxima, violações perpretados em alguns países de África (Quénia e Sudão).
Claro que ao recebemos imagens e notícias do que se passa em África, por intermédio da TV, jornais e revistas ficamos profundamente chocados. Mas acabamos por esquecer, passa-nos ao lado e continuamos a cultivar as nossas flores....
Lembrei-me do sonho do Manuel Palhares (unir todas as comunidades virtuais de Moçambique, formar uma ONG e ajudar o povo moçambicano...)e senti-me muito frustrada quando saí da sala de cinema. O cinema é uma arte, uma fábrica de sonhos, mas é igualmente um instrumento para nos abrir os olhos, tocar o nosso coração, quando mostra o sofrimento dos povos nos dias de ontem e de hoje. Porque nos envolve de tal maneira que não esquecemos mais certas imagens para toda a vida! 

O Fiel Jardineiro, baseado no romance de John Le Carré e realizado pelo brasileiro José Meirelles é já considerado um dos melhores filmes deste ano; Ralph Fiennes, o grande actor de Paciente Inglês, está maravilhoso ! Não se vão arrepender ao verem este filme que retrata afinal a verdade nua e crua do sofrimento das gentes africanas.