02 outubro, 2009

Por terras de Portugal IV

O trabalho leva-me actualmente a lugares belissimos, onde se respira ar puro e se contacta muito de perto com gente simples e acolhedora.

Vários lugares da freguesia de São João da Serra, concelho de Oliveira de Frades, numa encosta da Serra da Gralheira.

Este é o Portugal profundo, de pastagens, milho, pequenas hortas e vinha em bordadura, cultivadas em socalcos, sustentados por muretes de pedra, obra difícil de antepassados, hoje dando-nos imagens de rara beleza. De pequenos rebanhos de cabras e ovelhas a pastarem livremente.

Estragos no milho provocados por javalis...

Vida atribulada das gentes vivendo nestes lugares longínquos de verões quentes e invernos rigorosos. De infâncias sacrificadas às brincadeiras, trabalhando arduamente na agricultura, em grande parte das vezes acabando analfabetos. Ainda hoje se encontram pessoas que não foram à escola e não sabem assinar o documento que lhe estendemos. Com muita pena, dizem!
Sei que deveríamos ser mais distantes, resultado do trabalho que realizamos, mas não conseguimos deixar de ouvir as suas queixas, os seus dramas pessoais, os seus desabafos pelo estado da agricultura e pecuária e as dificuldades por que estão a passar.

Sei que deveríamos apenas, dada a idade avançada da maior parte dos agricultores que visitamos, levar-lhes boas notícias, agradecer-lhes por ainda cultivarem as suas terras, pedir-lhes para não desistirem, como é sua vontade...
Sei que depois desta geração desaparecer pouco restará... apenas terras abandonadas onde as silvas encontrarão um meio óptimo para crescerem à vontade. Os filhos estudaram, deixaram o campo e foram viver para as vilas e cidades, procurando empregos mais remuneratórios. Não querem mais saber das terras, afastam-se definitivamente.
Encorajando os poucos que ainda vão conservando a paisagem portuguesa verde, bonita de se ver, procurando não os penalizar por pequenos erros, na maior parte das vezes por ignorância, ingenuidade ou informação incorrecta.
Este é o nosso dia-a-dia.

5 comentários:

Maria disse...

É um problema que temos, e que outros países desenvolvidos como o nosso têm ou terão, mais cedo ou mais tarde.
Na Holanda, que estão à nossa frente nem sei quantos anos, todos os bocadinhos de terra são aproveitados e cultivados. Falo das mini-hortas que cada holandês das cidades pode ter no campo. Enfim, opções de se trabalhar (ou não) a terra.

Beijinho, Flor Grande

bettips disse...

Encorajando-os, dando-lhes a importância que têm, tanta!!! Esta será a nossa mensagem (sempre falo com gente do campo quando saio...), incansável. Compromete-te, sim, com o que é belo. E que belos são os lugares!
Um dia destes das viagens, estava a falar com uma velha senhora linda, a quem comprei grão (aliás todo o grão de bico que tinha no momento, que me serviu para oferecer na cidade!) e prometi-lhe que voltava um dia e queria vê-la, assim como estava, a vender feijão branco (que já tinha acabado). Sorri-lhe, esperança de vida: para mim e para ela!
Bjinho

Paúl dos Patudos disse...

Querida girassol
passei para te visitar, pois tens andando um pouco afastada daqui. Fica bem
beijos
Ana Paula

Guidinha Pinto disse...

Tenho na mente que todos os bocadinhos de terra que vão ficando por amanhar, hão-de voltar a dar alimento. Não importa a nacionalidade mas sim o povo que irá tomar conta deles. Há alguns imigrantes pela serra da Lousã que até já se multiplicaram. E é olhá-los, descalsos e ranhosos às solta pelas quintinhas, mas a irem à escola, terem em casa internet e venderem nas feiras e mercados, ao lado dos pais, os produtos que cultivam. Tenho esperança que nós, povo português, consigamos transmitir aos nossos pequenos, o amor pela terra que os nossos pais não souberam transmitir-nos. Porque nos lembramos que é da terra que nos vem o sustento, quando nas grandes cidades não se ganha o tostão.
Fique bem.
Beijo.

poetaeusou . . . disse...

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Sublime post, Girassol
,
Por isso a minha aldeia é tão grande
como outra terra qualquer
porque eu sou do tamanho do que vejo
e não, do tamanho da minha altura...
nas cidades a vida é mais pequena
que aqui na minha casa
no cimo deste outeiro.
as cidades escondem os horizontes,
e tornam-nos pobres, porque,
a nossa única riqueza é ver.
,
In – fernando pessoa,
,
brisas serenas, deixo,
,
*