22 dezembro, 2015

Voltar a nascer...


O coração  é como a árvore - onde quiser volta a nascer.

(Adaptação de um provérbio moçambicano)
Em "O Fio das Missangas" - Mia Couto

18 dezembro, 2015

Agora....

The Releasing Of Sorrows-Paul Bond


Somos credores dos valores pelos quais sonhámos...
Temos o direito de ser felizes...
Acredito que podemos ter tudo aquilo a que temos direito
Agora...

17 dezembro, 2015

Voltar a Macau 11


Casa pintada com girassois - Macau ( net) 


com dedos charrua
escreverás o poema
com mãos de girassol
inventarás o poente
aos sulcos ressequidos
lançarás a semente

Alberto Estima de Oliveira

Natural de Lisboa, onde nasceu em 1934, Estima de Oliveira esteve quase toda a sua vida fora de Portugal, já que aos 23 anos, em 1957, partiu para Angola, onde permaneceu durante cerca de 18 anos. Ao fim de uma pausa de dois anos em Portugal seguiu de novo para África, desta vez para a Guiné-Bissau. Chegou a Macau entre 1982 e 2004 ano em que regressou a Portugal. Mesmo já com residência fixa em Lisboa, Estima de Oliveira visitava Macau pelo menos uma vez por ano, tendo estado na cidade pela última vez em Dezembro de 2007.


Dedicado à poesia desde muito novo, Estima de Oliveira publicou várias obras em Macau, como "Infraestruturas", em 1987, "Rosto", em 1990, "O corpo (con)sentido", em 1993, "Esqueleto do Tempo" em 1995, "O Sentir", em 1996, e "Diálogo do Silêncio", em 1988. 
Da sua vasta obra fazem ainda parte livros como Vector II, Vector III, Kuzuela III – 1.ª Antologia de Poesia Africana de Espressão Portuguesa e Tempo de Angústia (Angola, 1972). Algumas das suas obras foram traduzidas e publicadas em chinês. Foi agraciado pelo Governo de Macau com a Medalha de Mérito Cultural.

Voltar a Macau 10


16 dezembro, 2015

15 dezembro, 2015

Voltar a Macau 8

Macau antigo

Tens a alma cheia de ipomeas
E de acácias rubras
E de chagas de melancolia nos muros velhos

Teus longos braços novos de betão e vidro
Rompem a bruma matinal
Por sobre os restos da antiga beleza

Macau em Maio - Fernanda Dias

13 dezembro, 2015

Voltar a Macau 7

Sampana - George Chinnery -1834


Errante
          ando no porto
de um interior
          com sampanas
navegando
          silenciosas
figuras de porcelana

Jorge Arrimar 

12 dezembro, 2015

Voltar a Macau 6

Praia de Hac-Sá


12.
vou nas asas de um vento cego, de um vento matinal
que sopra do norte. nem os vendavais quebram o hábito
de voar, mesmo quando a luz do farol se apaga e nos guia
um sopro salgado que vem do mar. em Hac-Sá
as casuarinas secam de um silêncio novo. dos seus

troncos de madeira macia liberta-se um junco,
e são de promessas as suas velas.

Jorge Arrimar, Doze (Re)Cantos do Poema

Jorge Manuel de Abreu Arrimar nasceu em Chibia, Huíla (Angola), em 1953. Na década de 1970, criou com amigos o Grupo Cultural da Huíla (Grucuhuíla). Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Luanda, tendo concluído a licenciatura em História e especializando-se em Ciências Documentais. Foi professor de português em Açores, onde dirigiu, com Carlos Loureiro, um suplemento literário chamado Página Africana.  Publicou, entre outros títulos, Ovatylongo (1975), Poemas (1979, em parceria com Eduardo B. Pinto), 20 Poemas de Savana (1981), Murilaonde (1990), Fonte do Lilau (1990), Secretos Sinais (1992) e Confluências (1997, em parceria com Manuel Yao). Em 1985 radicou-se em Macau, onde ocupou o cargo de diretor da Biblioteca Nacional. É colaborador do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro e prepara uma Antologia de Poetas de Macau em parceria com Yao Jingming.  Reside hoje em Portugal.

Voltar a Macau 5


Trilho da beira-mar de Hác-Sá


porque me deste vida,
uma outra vida, que não a vida que eu pensava
que era única,
e quebraste a dura noz da rotina
para dela saírem pássaros de fogo
voando céleres para o céu,
para a pura luz,
e todas as pétalas de uma primavera
nunca pressentida
caindo sobre a hora-agora
como sobre a rotundidade de um fruto,
o perfil de uma pequena ilha,
o brilho de uma gota de puro pranto,
de puro gozo,
[...]

Fernanda Dias, Contemplação além dos dias, Rio de Erhu, 1999

Fernanda Dias nasceu em Moura, Portugal, e é residente permanente de Macau desde 1986, onde lecionou no Liceu e, de 1999 a 2005, na Escola Portuguesa.  Durante uma década esteve ligada à Oficina de Gravura da Academia de Artes Visuais de Macau e participou de numerosas exposições internacionais, de gravura e pintura.  Livros Publicados: Gao Ge — Poemas (tradução) coleção Escritas de Macau, edição Instituto Português do Oriente, 2007.  Poemas de Uma Monografia de Macau, coleção Pavilhão do Insólito, edição COD, Macau, 2004. Chá Verde, poesia, edição Círculo dos Amigos da Cultura de Macau, 2002. Rio de Erhu, poesia, edição Fábrica de Livros, Macau, 1999. Dias da Prosperidade, contos, edição Instituto Cultural de Macau / Instituto Português de Oriente, 1998. Horas de Papel, poesia, edição Livros do Oriente, Macau Poesia, 1992.

Voltar a Macau 4


Nestas águas poluídas pescar o quê? 
Mas não desistem..
Paciência de chinês...

10 dezembro, 2015

Voltar a Macau 3

José dos Santos Ferreira - Adé 

Cidádi di Nómi Sánto / Cidade de Nome Santo

poesia de José dos Santos Ferreira (Adé)

1 – Nôsso Macau, nómi sánto, / Nossa Macau de nome santo
Vosôtro olá! / Vede, vede todos bem
Qui ramendá unga jardim; / parece um jardim
Fula fresco na tudo cánto / Por todos os cantos flores frescas
Sã pa ispantá. / É de pasmar
Sai semeado, nom têm fim. / Saem plantadas sem fim

 2 – Gente di Macau, na passado, / Gente de Macau, no passado
Co tánto lágri já regá / Com lágrimas amargas regou
Su fula cheroso; abençoado, / Suas perfumadas flores, abençoadas
Qui Dios já ajudá semeá. / Que Deus ajudou a plantar
Na mundo assi transtornado. / Num mundo tão perturbado
Sã fazê triste coraçám / É de entristecer corações
Olá gente faltá cuidado, / Ver gente descuidada
Dessá fula muchá na chám. / Deixá-las murchar no chão

 3 – Macau, masquí chám pequinino, / Macau, embora torrão pequeno
Vosôtro pôde crê. / Podeis todos crer
Sã unga grándi casa cristám. / É uma grande casa cristã
Alumiado pa luz divino, / Iluminada por luz divina
Inchido di fé, / Cheia de fé
Co amor na coraçám. / Com amor no coração

 4 – Fé co amor juntado / Fé cristã e amor juntos
Sã ancuza qui Dios más querê, / São sentimentos que mais agradam a Deus
Macau quirido, abençoado, / Macau querida, abençoada
Ne-bom, ne-bom disparecê! / Não pereças, não!
Vôs têm nga obra começado, / Tens uma obra começada
Qui mundo cristám conhecê, / Que o mundo cristão conhece
Cidádi di nómi sagrado, / Cidade de nome sagrado
Vôs nom-pode disparecê! / Tu não podes perecer


(Poema em patuá, dialecto de Macau)

09 dezembro, 2015

Voltar a Macau 2



...
Ponho o negrume da rosa sobre a mesa
bebo o teu olhar e o chá. E espero
Espero que me digas o que fomos
que antiga fraternidade é esta
que tenaz e sôfrega nos une.
...

Fernanda Dias, O Chá, Horas de Papel,1992.

06 dezembro, 2015

Românticas 13


Voltar a Macau 1

Praia de Hac Sa, Coloane, Macau

E já lá vão 3 anos...
Voltar é sempre um gosto enorme...
Pela família aqui residente já há 16 anos, pelo seu ambiente cosmopolita, pelas memórias passadas, por revisitar lugares deixados pelos portugueses que continuam respeitosamente belos e conservados.
Porque para mim continua a ter magia.